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“As qualidades do quadrinho são infinitas, basta ousadia”

por admin | 16 de Fevereiro de 2018 | Cases

Confira nossa entrevista com o cartunista Mauricio de Sousa, responsável por 86% das vendas de HQ no país

Na casa em que cresceu, em Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, todo mundo contava histórias. Idealizador da Turma da Mônica, Mauricio de Sousa se desenvolveu cercado de poesia. Do talento aliado à vontade de aprender cada dia mais, nasceu um império conduzido bravamente pela menina mais forte do bairro do Limoeiro: Mônica, a personagem mais conhecida do cartunista. Às histórias em quadrinhos (HQs), juntaram-se desenhos animados, livros, álbuns de figurinhas, produtos licenciados e até parque de diversão.

As revistas de histórias em quadrinhos publicadas por Mauricio de Sousa representam 86% das vendas do mercado de HQs brasileiras, segundo a assessoria de comunicação do autor. Ele já alcançou o extraordinário número de 1 bilhão de revistas publicadas. Não à toa, é considerado o maior formador de leitores do Brasil.

Em entrevista exclusiva, Mauricio de Sousa conta como surgiu a Turma da Mônica e as histórias por trás dos personagens. O cartunista fala sobre o mercado das histórias em quadrinhos no Brasil, a importância das publicações para a cultura brasileira e dá dicas do que não pode faltar em uma boa tirinha.

Que influência a sua família teve em sua trajetória profissional?
Mauricio de Sousa: Nasci no meio da arte, do desenho. Papai era pintor. Nasci numa casa cheia de poesia, de desenhos e de gibis. Aprendi a ler nos gibis. Desde os 5, 6 anos, estava lendo gibis e, desde aquele tempo, imaginava que queria fazer a mesma coisa. Queria contar histórias. Venho de uma família que contava muitas histórias, ficava impressionado quando minha mãe e minha avó contavam histórias.

Como foram as primeiras experiências profissionais?
Mauricio de Sousa: Cresci treinando desenho, numa cultura muito vasta de quadrinhos americanos. Decalcava desenhos e quando achei que estava na hora, peguei um trem para São Paulo e vim ser desenhista. Não consegui, não estava ainda maduro o suficiente. Pedi para trabalhar então na Folha da Manhã como desenhista. O chefe de desenho gostou do meu trabalho. Disse que era bom e sugeriu que eu fosse fazer outra coisa. Segui o conselho dele e fui fazer reportagem policial. Fiquei na Folha da Manhã durante 5 ou 6 anos, enquanto treinava mais um pouco para quadrinhos. No meio tempo, ilustrava algumas matérias que fazia, e isso não passou despercebido. Quando fiz minha primeira historinha em quadrinhos, fiz o Bidu e Franjinha e eles publicaram. Pedi demissão da reportagem e publiquei as primeiras tiras do Franjinha.

Quando foi publicada a primeira revista da Mônica?
Mauricio de Sousa: Para fazer concorrência com material americano, vi que precisava de uma equipe auxiliar e comecei a fazer mais tiras. A Abril me convidou para fazer a primeira revista em 1970. Aí a coisa desandou. Depois da Mônica, vieram as revistinhas da Magali, do Chico Bento, etc, até chegar em desenhos animados e parques temáticos. Hoje, chegamos à internet com a websérie Mônica Toy, que está no mundo inteiro, com sucesso garantido, com bilhões de acessos por mês.

Você imaginou o sucesso que teria?
Mauricio de Sousa: Não, nunca imaginei todo esse sucesso e amplitude. Quando abriram novas plataformas, imaginava que meu material precisava estar lá também. Hoje são 400 funcionários trabalhando aqui. Estamos entrando em outros países: vamos publicar no México, nas editoras americanas e já publicamos no Japão e em países europeus.

O que uma história em quadrinhos precisa ter para ser boa?
Mauricio de Sousa: Ter um bom trabalho com bons personagens e boas histórias. Você enfrenta uma grande concorrência. As possibilidades do quadrinho são infinitas, basta que a gente tenha ousadia, coragem e certeza de que podemos ter um bom trabalho.

Qual a importância das HQs para a cultura brasileira?
Mauricio de Sousa: A coisa mais importante, no nosso caso, é a alfabetização. Com milhões e milhões de leitores, temos uma cartilha informal com nossas revistas. Muitas crianças aprendem a ler com 5 ou 6 anos, pelos gibis. Sei pelo meu caso que, depois de algum tempo de leitura de quadrinhos, essa publicação serve de catapulta para te lançar para outros livros e leituras.

Como você enxerga o mercado de quadrinhos no Brasil? Que conselhos daria para quem está começando?
Mauricio de Sousa: Hoje, com a internet, é tudo muito mais fácil, você pode mostrar o seu trabalho para mundo, não precisa de uma publicação física. Você joga na nuvem e espalha para o mundo. O sucesso depende do talento, da técnica narrativa que você tem de ter e do foco.

Quais são os seus personagens preferidos da Turma da Mônica?
Mauricio de Sousa: Todos os personagens são meus preferidos, todos são nossos filhos, mas alguns falam mais de você. (No meu caso) é o Horácio, o dinossauro, que é amigo de todo mundo, quer ajudar todo mundo (risos).

Os personagens são baseados na sua família?
Mauricio de Sousa: A maioria dos personagens que fizeram muito sucesso são baseados na minha família, nos meus filhos. Na verdade, sempre se basearam em alguém que conhecia, nasceram com uma humanidade à flor da pele. Esse é um dos pontos para o sucesso. As pessoas se identificam, todo mundo tem uma Mônica, um Cebolinha, uma Magali ou um Cascão na família.